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"Ser produtor está no meu sangue e determinação"

ENTREVISTA
ESCRITO POR JULIANA FIDELIS, DE UBERABA
01/11/2024 . SISTEMA FAEMG, SINDICATOS, SENAR, FAEMG

Wesley Barbosa de Freitas se considera produtor rural desde o dia em que nasceu, há 54 anos. “Aqui nasci, cresci e vivo até hoje”, afirma, orgulhoso, ao falar das terras que estão na família desde 1909, quando seus bisavós e avós chegaram a cavalo para desbravar o sertão de Minas Gerais, na região do Pontal do Triângulo. Continuar o legado da família não impediu Wesley de traçar o seu próprio caminho. Ele fez do campo a sua escola e com apenas 18 anos decidiu investir na agricultura, diversificando da pecuária de leite que era a tradição familiar. 

A aposta deu certo. Hoje, ele mantém o plantio de grãos em uma área de quatro mil hectares, que abrange um raio de 32 km nos municípios de Capinópolis, Cachoeira Dourada, Ipiaçu, Ituiutaba e Canápolis. Além da produção de soja e milho, também atua na pecuária de corte e de leite, e possui o Armazém Triângulo Logística de Grãos.

A realização profissional de Wesley se completa com a participação dos filhos Walyson e Neto, além de tio, sobrinho, irmão e outros familiares na produção rural. “A nossa atividade conseguiu agregar todas essas pessoas. Sempre digo que o principal para a família é a união, todos juntos com o mesmo propósito”. A equipe do jornal Em Campo foi até a Fazenda Recanto Bonito, em Cachoeira Dourada, para conhecer mais sobre a história deste produtor. A emoção ao falar do pai, falecido no ano passado aos 81 anos, e os grandes quadros na sala com fotos da mãe e das filhas Jady e Susy são uma demonstração do seu amor pela família.

 

“É muito simples deixar herdeiros, mas sucessores é algo bem mais complexo”

 

Como iniciou sua história na agricultura?

A minha família chegou aqui há 115 anos e comprou uma grande quantidade de terra. A sucessão familiar foi subdividindo a propriedade e meu pai herdou 20 hectares. Aprendi muito com ele, com sua honestidade, seriedade e trabalho. Aos 14 anos fui estudar em Franca e não me adaptei. Retornei para a fazenda e fui trabalhar. Com 18 anos, comecei plantando sete hectares de algodão, em área arrendada na propriedade de um tio. Com o tempo, consegui juntar dinheiro, comprei meu primeiro trator e fui arrendando outras terras. Em 1998, tive uma perda enorme na produção de algodão com a doença do azulão. A partir de 2000, comecei a mudar o meu foco para o plantio da soja.

 

Qual foi o seu diferencial para obter sucesso na produção de grãos?

A mudança para o plantio direto foi importante, pois conseguimos fazer a segunda safra. Hoje nós plantamos soja no verão e milho no inverno em 100% da área. A conservação da palhada me dá condição ideal de fazer um plantio mais cedo. Com uma boa chuva, eu já inicio o plantio da safra. Eu poderia ter outras culturas, mas devido a nossa baixa altitude, de 450 metros, consigo uma boa produtividade na soja e na safrinha. Ter o armazém ajuda muito, pois você agrega valor em várias etapas do cultivo. Em 30 a 60 dias após o término da colheita da safra, o preço do grão reage. Já tivemos aumento de 100% em um período muito curto. Muitas vezes, o produtor compra uma colheitadeira ou um carro bom, e não vê a importância de uma unidade armazenadora de grãos. São detalhes que fazem a diferença dentro da nossa atividade.

 

Você atuou como presidente do sindicato de Capinópolis e Cachoeira Dourada e foi um dos fundadores e primeiro presidente da Aprosoja Minas Gerais. Qual a importância destas entidades para o trabalho do produtor rural?

Normalmente, o produtor trabalha muito, dedica da porteira para dentro e não sabe o que está acontecendo da porteira para fora, onde leis estão sendo construídas e votadas, impondo obrigatoriedades ao setor. Vendo essa necessidade de estar mais próximo de quem faz as leis e cria as regras para que a gente cumpra, me propus a fazer parte da Aprosoja, que atua politicamente para defender o produtor no estado e na União. Procurem saber o que entidades como a Aprosoja e a Faemg, por exemplo, tem feito em prol do produtor rural. São elas que estão diuturnamente defendendo os produtores que estão da porteira para dentro, tentando fazer o melhor na nossa atividade.

Qual a relevância do trabalho do produtor, na sua opinião?

Ser produtor rural tem uma simbologia muito grande, pois você está matando a fome das pessoas. Durante a vida, você vai precisar de advogado duas ou três vezes e de médico uma vez ao ano, em média. Quando falamos de alimento, você precisa do produtor rural, no mínimo, três vezes ao dia. É gratificante saber isso, mesmo o produtor sendo perseguido como nos últimos tempos. Sendo ou não massacrados, continuaremos produzindo, pois sabemos a importância do nosso setor para a população. Ser produtor é algo que está no meu sangue e na minha determinação.

 

Qual legado você quer deixar para os seus filhos?

É muito simples deixar herdeiros, mas sucessores é algo bem mais complexo. Tem pessoas que herdaram e hoje vivem de aposentadoria, pois não souberam dar valor na construção feita pelos seus antepassados. Tem um versículo na Bíblia que diz: “instrua o teu filho no caminho”. Não é mostrar o caminho e, sim, estar junto no caminho. É o que estou fazendo com meus filhos, sobrinho e outras pessoas, de como dar sequência naquilo que conseguimos. Tive o privilégio de conviver por 53 anos com o meu pai e todos os dias pedir a benção. Quero que meus filhos estejam comigo até os últimos dias da minha vida, pois a maior riqueza e herança que um pai pode deixar são os ensinamentos e os exemplos a serem seguidos.