Representantes de dez entidades do setor produtivo de Minas Gerais se reuniram nesta quarta-feira (16), em Belo Horizonte, para manifestar preocupação com a proposta de redução da jornada de trabalho em debate no Congresso Nacional. A medida prevê o fim da escala de seis dias consecutivos de trabalho por um de descanso (6x1), sugerindo uma carga semanal de 36 horas distribuídas em quatro dias.
O vice-presidente de Finanças do Sistema Faemg Senar, Renato Laguardia, destacou os impactos imediatos para o campo, especialmente em Minas Gerais. Segundo ele, uma pequena propriedade rural poderia ver o custo da mão de obra por litro de leite aumentar em até 80%. No setor cafeeiro, a produtividade durante a colheita poderia cair até 25%, exigindo a contratação de mais trabalhadores e elevando os custos em aproximadamente 30%.
“Queremos dignidade no trabalho rural, mas dignidade também exige renda, emprego e sustentabilidade. Não podemos comprometer a segurança alimentar nem o futuro da produção no campo”, disse Laguardia.
A analista de planejamento Amanda Fernandes de Morais ressaltou que a proposta está sendo analisada com cautela. Ela destacou que pequenas e médias propriedades rurais, especialmente nos setores de leite e suinocultura, seriam as mais afetadas, devido à necessidade de mão de obra constante. “A medida pode elevar significativamente os custos e até inviabilizar algumas atividades”, alertou.
Impactos econômicos e risco de desemprego
Durante o evento, João Gabriel Pio, gerente de Economia e Finanças Empresariais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), apresentou um estudo técnico realizado pela entidade sobre os impactos socioeconômicos da redução da jornada de trabalho. Segundo ele, a redução da jornada, sem compensação por aumento de produtividade, pode causar uma queda de até 16% no Produto Interno Bruto (PIB) do país e acabar com 18 milhões de empregos.
O presidente Flávio Roscoe alertou para o risco de um choque inflacionário, já que as empresas teriam dificuldade em manter os níveis atuais de produção diante da limitação da carga horária e da escassez de mão de obra. “Discutir esse assunto sem a devida profundidade, na verdade, é uma pauta populista”, afirmou.
Percepção dos brasileiros
Pesquisa da Quaest Consultoria apresentada no evento pela diretora de inteligência de mercado, Nathália Porto, revelou que 59% dos brasileiros apoiam o fim da escala 6x1. A principal justificativa apontada pelos entrevistados é o desejo de mais tempo para descanso ou dois dias de folga por semana (51%), seguido da busca por melhor qualidade de vida e mais tempo com a família (21%). Por outro lado, o argumento que mais sensibiliza os que se opõem à mudança é o risco de aumento do desemprego.
O professor de relações do trabalho da faculdade de economia da USP, José Pastore, defende que, tanto o setor privado quanto o público terão sérios problemas caso a mudança seja aprovada. “Enquanto os países do mundo estão fazendo testes piloto, aqui estão querendo implantar a mudança em forma de lei para todas as esferas do setor produtivo. É preciso analisar todos os aspectos com muito cuidado”, concluiu.